Monsaraz com História

Origem do nome "Monsaraz"

A origem toponímica do termo Monsaraz não está suficientemente estudada, embora se possa colocar a possibilidade da decomposição do termo em Mon Saraz. A palavra Saraz pode derivar de Xarez ou Xerez que equivalia, durante o domínio muçulmano à forma arábica Saris ou Sharish.

O equivalente em castelhano do vocábulo português Xara é Jara. Assim, Xarez ou Xerez corresponde aos equivalentes arcaicos castelhanos Jaraez ou Jarás que conduziram às formas actuais do Jerez castelhano ou Xerez português. Neste sentido, Monsaraz pode significar portanto MONTE XAREZ ou MONTE XARAZ, isto é, monte erguido no coração de uma terra nas margens do Guadiana, antigamente povoada por um impenetrável brenhal de estevas (ou xaras) e que, pela excelência de condições estratégicas – posição de altura com cobertura defensiva de um grande e importante rio – recomendava, naquele sítio de difícil acesso, a fundação de um povoado, quase naturalmente defendido.

Porta da Vila

A Porta da Vila, enquanto acesso principal e porta mais característica de Monsaraz, exibe uma estrutura defensiva protegida por dois torreões semicilíndricos, um dos quais (o de poente) encimado pelo campanil do relógio, obra tardia do reinado de D. Pedro II.

Curiosidade: Ao entrarmos pela Porta da Vila, incrustado na ombreira esquerda da porta, avistamos de imediato o quotidiano de uma população que se servia da “vara” e do “côvado” para uniformização das suas práticas comerciais e aferição das medidas dos comerciantes de panos que entravam na vila.

Celeiro Comum de Monsaraz

Terá existido um Celeiro Comum na vila de Monsaraz desde 1632. O Celeiro de Monsaraz já funcionava em 1632 e possuía, como todos os outros celeiros, os seus oficiais regulares, ou seja, um depositário, um tesoureiro e naturalmente um escrivão, que repartiam entre si as tarefas de distribuição e cobrança dos empréstimos de trigo e a indispensável escrituração nos livros de registo. A sua instituição, no século XVII, foi solicitada pela Câmara Municipal e pelo povo da vila, lembrando as necessidades que o população padecia, especialmente pela falta de um depósito de trigo como existia noutras localidades próximas como Redondo, Elvas, Terena, Mourão, Portel, Montoito e Vila Viçosa. Em 1653, a sua situação financeira já era extremamente delicada, o que se arrastou pelos anos seguintes.  Funcionaria até finais do século XIX, perdendo gradualmente a sua importância a partir de meados do século XVIII.

Igreja de Santiago

De fundação remota e data desconhecida sabe-se, segundo os documentos existentes, que esta igreja já existia na segunda metade do século XIII. Primitiva benesse de Ordem de Santiago da Espada e, mais tarde, integrada na Ordem de Cristo, a igreja original desapareceu por completo, com exceção da moldura de uma obra gótica. A traça atual pertence ao reinado de D. José I, que encetou obras de reparação após os estragos provocados pelo terramoto de 1755. Na década de 80 do século XX, a Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz procede ao restauro desta igreja, que se situa na falda ocidental da vila e contígua às casas que pertenceram a D. Durando Pais no período medieval. Presentemente, este monumento acolhe exposições de arte. Rua de Santiago 1, Monsaraz (38.443649, -7.380764)

Antigos Passos de Audiência

Em termos arquitetónicos, foi o edifício civil mais nobre e mais representativo da Monsaraz antiga. Está situado na fachada oriental da Rua Direita e foi edificado no segundo quartel do século XIV, durante os reinados de D. Dinis e D. Afonso IV, como consequência do desenvolvimento administrativo e económico da vila e serviu também de cadeia da comarca.

Embora a mais antiga referência documental ao edifício date de 1362, supõe-se que a sua construção se tenha efetuado ainda no reinado de D. Dinis ou no do seu sucessor. Entre finais do século XV e princípios do seguinte, o edifício foi ampliado com a construção de um segundo piso destinado a albergar a cadeia comarcã. Tendo perdido as suas funções camarárias em finais do século XVII, viria a sofrer danos consideráveis com o terramoto de 1755.

Fresco do Bom e do Mau Juíz

A Sala do Tribunal foi decorada no século XV com um fresco que esteve durante séculos tapado com um tabique de tijolo e só em 1958, aquando das obras de requalificação, é que este exemplar único em Portugal, em relação ao assunto temático profano, foi redescoberto e salvo da destruição. Esta invulgar obra do património artístico representa a alegoria da justiça terrena, em que o bom e o mau juiz são os elementos principais, e em que se evidenciam as fórmulas tradicionais de isenção e corrupção humanas. A pintura é dos finais do século XV, apresentando na parte cimeira a figura de Cristo em majestade, assente no globo terrestre com a inscrição UROPA. Ladeando a figura de Cristo estão dois profetas mostrando o Alfa e o Ómega, simbolizando respetivamente o Princípio e o Fim. No Painel inferior e principal assentam as figuras do Bom e Mau Juiz, acompanhadas por figuras comuns de um julgamento civil. O Bom Juiz segura a vara reta da justiça com dignidade e expressão solene, em oposição ao Mau Juiz com duplo rosto e a vara da justiça quebrada. As figuras que encimam as cadeiras do Bom e do Mau Juiz são a Misericórdia no juiz íntegro e a perversão expressa na cabeça de um demónio no Juiz corrupto.​​

Capela de São José

Localizada precisamente por cima de uma antiga moradia quatrocentista, esta capela barroca composta por um arco gótico foi fundada em 1708 pela mão de Domingos Lourenço Perdigão.

A sua arquitetura é simples e retangular.

Localizada na rua Direita, a capela de S. José foi erguida com o intuito de ministrar os ofícios divinos dos presos da cadeia da Comarca.

Igreja da N.ª Sr.ª da Lagoa

A primitiva igreja gótica é construída na segunda metade do século XIII, sendo a sua referência mais antiga do tempo do rei D. Dinis. Em virtude da peste negra que assolou a região, a igreja original desaparece no reinado de D. João I, dando azo à construção de uma nova Matriz, uma vez que as reduzidas dimensões do edifício não permitiam o sepultamento da população local. A construção da atual igreja matriz, da responsabilidade do arquiteto Pêro Gomes, é do século XVI, baseada no estilo renascentista, com três naves apoiadas em quatro colunas toscanas, onde predomina o xisto regional. O frontão encontra-se decorado com um painel de azulejos e encabeçado por uma Cruz da Ordem de Cristo, representativo de Nossa Senhora da Conceição. O altar-mor, composto por talha dourada, manifesta duas esculturas em madeira que representam Santo Agostinho e Santa Mónica. O seu interior está ornamentado com decorações artísticas dos séculos XVII e XVIII e com oito capelas laterais. É essencial destacar o túmulo de Gomes Martins Silvestre, primeiro alcaide e povoador de Monsaraz, construído em mármore de Estremoz, cuja face frontal mostra um cortejo fúnebre onde desfilam diversas figuras e no topo uma figura alusiva à atividade do cavaleiro templário.

Igreja da Misericórdia

A sua construção teve lugar a partir do século XVI, data da criação da Misericórdia, e ficou incorporada no complexo do antigo Hospital do Espírito Santo. Sendo uma igreja de arquitetura simples e retangular, de estilo barroco, esta encontra-se ladeada por duas capelas adornadas com talha dourada da segunda metade do século XVIII, ostentando uma imagem do Senhor Jesus dos Passos – padroeiro da vila de Monsaraz –, que fora oferecida pelo Duque de Bragança, D. Teodósio II. Na fachada, o escudo régio do tempo de D. José, trabalhado em mármore, confere-lhe alguma sobriedade. É de realçar ainda o fato de a Santa Casa da Misericórdia possuir, nas suas dependências anexas, um vasto centro documental datado de finais do século XVI.

Casa Monsaraz

A derradeira Câmara Municipal da Vila de Monsaraz, construída ou adaptada, oferece caraterísticas arquitetónicas de fins do século XVII, talvez coevas dos reinados de D. Afonso VI e D. Pedro II. A frontaria é constituída por arcada térrea de três vãos planos, ultrapassados, com fustes toscanos e sobrado de igual número de janelas, duas de peitoril e a central de sacada, lavradas em mármore branco. Tem telhado de quatro águas. No ângulo superior do cornijamento, na face da Rua do Castelo, ergue-se o brasão de armas da vila, que é simultaneamente do reino, também de calcário e aparentemente peça quinhentista, decerto recuperada do edifício primitivo. O imóvel, que sofreu danos provocados pelo abalo sísmico de 1 de novembro de 1755 foi, anos depois da extinção do concelho em 1838, dividido e parte dele alienado, pelo que apenas se conserva na posse da Junta de Freguesia a Sala de Sessões, que compreende o corpo principal voltado para a Praça e se alcança por escadaria de ardósia.

Pelourinho de Monsaraz

O Pelourinho, popularmente designado também como picota, é uma coluna de pedra colocada num lugar público de uma cidade ou vila onde eram punidos e expostos os criminosos. A partir de finais do século XV foram considerados o padrão ou o símbolo da liberdade municipal. Para alguns historiadores, como foi o caso de Alexandre Herculano, o termo pelourinho só começa a aparecer no século XVII, em vez do termo picota, de origem popular. A partir dessa altura passou a ser apenas o marco concelhio. O pelourinho de Monsaraz estabelece assim o símbolo da jurisdição e da autonomia do concelho. Encontra-se erigido sob um soco de três degraus quadrados, onde se ergue a base, coluna, capitel e remate. De feitura oitocentista, ele encontra-se construído em mármore branco de Estremoz e inspirado na arte clássica, tendo reaproveitado os elementos do pelourinho original que se perdeu com o terramoto de 1755.

Castelo e fortificação medieval

As obras têm início após a Reconquista Cristã e prolongam-se por vários reinados. Visando incrementar o povoamento e a sua defesa, o rei D. Afonso III, pela mão do cavaleiro Martim Anes, começa a erguer a nova alcáçova e as cinco torres quadrangulares que a compõem, o cubelo e o troço da barbacã sul. No reinado seguinte, sob a égide do rei D. Dinis, procede-se à construção da Torre de Menagem e quase toda a barbacã exterior. Por fim, D. Fernando constrói a cortina interior de separação do alcácer com o casario da vila. A muralha que delimita a praça de armas é constituída em pedra de xisto e cal reforçada por torres, ao passo que os panos de alvenaria que rodeiam a vila se encontram assentes em xisto, granito, argamassa de barro e cal. Curiosidade: Por volta de 1830 as antigas edificações da praça de armas do castelo de Monsaraz encontravam-se em adiantado estado de ruína mercê do abandono humano do edifício militar. Os habitantes de Monsaraz começaram então a erguer a “sua” praça de touros, aproveitando os materiais dessas antigas construções e tirando pedras de que precisavam de alguns troços da muralha que também se encontrava em ruína. Desde então, é tradição realizar-se nessa praça a habitual corrida de touros das Festas em honra do Senhor Jesus dos Passos.​

A Casa da Roda de Monsaraz

” Aqueles que em crianças eram abandonados na Roda ou noutros lugares públicos eram conhecidos como expostos. Antes da Roda as crianças eram geralmente abandonadas às portas das igrejas. Lentamente foi-se introduzindo o uso de abandonar as crianças nas rodas. Estas consistiam em cilindros giratórios, abertos num lado e colocados verticalmente nas portarias dos conventos, a fim de se receberem ali objetos sem haver contacto direto com o exterior. Neste engenho, tão propício ao anonimato, começaram a ser abandonadas as crianças a partir do século XVI, costume que foi generalizado até que D. Maria I o reconheceu oficialmente por circular de 24 de Março de 1783. Ao exposto era atribuído o nome do santo venerado no dia em que era recolhido. Nenhum inquérito se fazia para averiguar o nome dos pais; mas, em qualquer altura, estes podiam reclamar os filhos. Para identificação, guardava-se e registava-se tudo o que as crianças traziam. Até aos 7 anos os expostos eram entregues às amas; após esta idade regressavam à casa, onde permaneciam até aos 12, altura em que eram entregues como criados a quem lhes pagasse melhor soldada. Na imagem, a casa que em Monsaraz recolheu durante alguns séculos as crianças abandonadas na vila. “

Cisterna de Monsaraz

A cisterna da vila era o principal reservatório de água intramuros de Monsaraz.

Obra dos finais da Idade Média, a cisterna da vila era o principal reservatório de água intramuros de Monsaraz e o grande abastecedor da população. A obra encontra-se emparelhada na face oriental com o pano amuralhado dionisiano, nascente da porta do Buraco e demarcada a ocidente na travessa pública do mesmo nome por um arco gótico de pedra, que dava passagem ao coletor geral das águas.

Curiosidade: reza a lenda que esta cisterna foi precedida de uma mesquita muçulmana, construída provavelmente entre os séculos XI e XII.

Capela de São João Batista (Cuba)

Esta ermida, que ficou englobada desde o século XVII no Baluarte de São João, apresenta uma curiosa forma cúbica de caráter mourisco, o que levou alguns investigadores a pensarem tratar-se de uma antiga cuba árabe. Outros, porém, atribuem-lhe uma origem quinhentista, período em que mudejarismo influenciou fortemente a arquitetura alentejana. O interior do templo encontra-se revestido por pinturas murais realizadas por artistas eborenses no ano de 1622.

De acordo com a documentação existente, este edifício religioso albergou o culto de uma Confraria de Monsaraz, designada por São João Baptista, A ermida, muito abandonada a partir de oitocentos, sofreu várias mutilações causadas por procura de tesouros imaginários e por obras levadas a efeito a partir da década de 60 do século XX. Em 1999 um amplo programa de restauração do edifício e das pinturas murais conferiu-lhe uma maior dignidade no conjunto monumental de Monsaraz e permitiu-nos conhecer um pouco melhor as suas origens quinhentistas.

Porta de Évora

Foi durante muitos séculos a principal via de acesso que conduzia os transeuntes a Monsaraz, vindos de Évora ou de Vila Viçosa, pelas antigas vias romanas.

 

Entravam na porta de Évora, de desenho gótico, que, juntamente com as outras portas – da Alcoba, do Buraco e da Vila – constituíram, desde o século XIII, as principais entradas no burgo montesarense.

Casa da Inquisição

Na Rua do Quebra-Costas existe um edifício de dois pisos com um curioso painel de azulejos, onde figuram alguns elementos iconográficos. Segundo a tradição, este edifício foi a Casa da Inquisição.

Os relatos do povo descrevem-na como sendo um local de tortura, onde os inquisidores infligiam os mais terríveis tormentos aos seus prisioneiros.

No entanto, a falta de provas documentais não corrobora esta tradição. Supõe-se que este edifício tenha estado ao serviço da Inquisição, não como tribunal, mas como arquivo de processos ou como prisão temporária dos prisioneiros, que mais tarde seriam julgados no Tribunal do Santo Oficio em Évora.